Sabe aquele gay espalhafatoso, barulhento, que fala o que bem entender, que dança rebolando e que faz e acontece? Sabe aquelas “bichinhas” que a gente vê na rua e debocha, cutuca quem tá perto e aponta, ri disfarçadamente e pensa: viado!?
Meu filho é um deles... Sim. GAY.
Sabe aquelas mães que desde muito cedo percebem a orientação sexual de seus filhos-crianças, que lutam para de alguma forma alterar isso; que desabafam com os familiares mais chegados; que buscam orientação psicológica; e são orientadas a deixar claro para o filho “que não estão gostando do comportamento afeminado deles”, porque, claro, isso pode ser revertido, uma vez que a “opção” (e o erro se faz presente mais uma vez) só é feita por volta dos sete anos de idade?
Sabe aquelas mães que decidem se tornar menos vaidosas para evitarem influenciar o filho a se afeminar mais ainda? Que deixam de passar batom na frente da criança pra que ela não a imite? Que se tornam mais duronas, menos sensíveis, afinal é isso que se espera de um comportamento masculino!?
Sabe aquelas mães que inúmeras vezes perceberam a troca de olhares debochados de amigos e principalmente de alguns familiares, que ouviram: você é que tá criando ele assim. Você precisa criar esse menino feito homem!? E então elas matriculam o filho na capoeira, no futebol e no jiu-jtsu?
Sabe essas mães que fazem tudo isso porque, lógico, sua criança “escolheu” ser assim!? É uma opção!? Sabe aquelas mães que acreditam que sempre pode acontecer dele conseguir controlar seus instintos e viver uma vida de mentira, infeliz, em um casamento hétero onde a mãe teria a honra de conduzir o filho até o altar para entregá-lo a uma mulher-enganada, que lhe daria netos lindos e uma vida tradicional e sem constrangimentos!?
Sabe esse tipo de mãe, bem FDP que acabei de descrever?
Eu sou uma delas! Hoje, talvez para conseguir conviver comigo mesma, gosto de pensar que eu “era uma delas”. Preconceituosa disfarçada. Porque os gays são muito legais e divertidos, desde que não sejam seus filhos. E é preciso confessar: sempre quis ser mãe de meninos. Talvez porque eu seja uma territorialista incorrigível, que não aceitaria dividir meu “reinado” com outra fêmea. É possível. Talvez porque eu seja muito narcisista. Controladora. Ou só FDP mesmo. Não duvido.
Mas prefiro acreditar (pelo bem da minha sanidade mental) que é porque vim de uma família predominantemente feminina. Sete mulheres em casa (minha mãe e suas seis filhas). Fora as filhas dos outros que minha mãe criou. Dos nove sobrinhos, seis são mulheres. Então, cresci querendo transitar por outro universo, mais masculino.
Mas a vida tem um senso de humor curioso: toma seu menino com pênis, e espírito e alma de menina. Toma. Tomei. E caí de amores por ele. Às vezes pensava: bem que ele podia ser artista. Artista gay ninguém discrimina. Acham até legal. Felizmente, ao longo dos anos, fui me curando. Sim, porque não existe cura gay, mas existe cura para o preconceito.
Hoje, sinto um orgulho tão grande do meu filho. Sujeito politizado, engajado, destemido, que busca fazer a diferença em todos os lugares por onde transita. É presidente da empresa júnior de design da UFRN. Faz parte do CADE (Centro Acadêmico de Design). Encabeça a luta contra o assédio na Universidade. Luta contra à censura de manifestações artísticas e políticas. Posiciona-se fortemente a favor da igualdade dos direitos entre homens e mulheres. Me ensinou que Feminismo não tem nada a ver com radicalismo. Abriu meus olhos para enxergar o fascismo enraizado onde a gente menos espera.
Meu filho é um artista. Porque artista mesmo é quem consegue sobreviver e se sobressair nessa sociedade hipócrita.
Sabe aqueles indivíduos que incitam a violência, homofobia, que acreditam que amar uma pessoa LGBTQIA+ é promiscuidade, que acham que filho gay tem levar porrada até virar “homem”, incitando a agressão e o espancamento infantil?
NÃO SEJA UM DELES!